domingo, 30 de agosto de 2009

FRAGMENTOS II

  Pintura em Acrílico sobre tela, versão pintada por Salete Cardozo Cochinsky, das Cavernas de Maresha situadas em Israel.
  "Quando se está dentro de uma ou cavernas o melhor que temos a fazer é abstrair e aprender o que elas têm a nos dizer." Salete C. Cochinsky
FRAGMENTOS II
  O casal chegou apresado. Rapidamente cada um observava um lugar do ambiente e logo chegaram à decisão do local em que construiriam sua casa. Tão seguido, juntos começaram o processo de construção.
  Lembrei-me dessa cena hoje, ocorreu em setembro de 2008, mas hoje achei prematuro e precipitado o que vi. Os Sabiás, mesmo com essa garoa que faz em Porto Alegre já estavam selecionando material para construir seu ninho. Outra vez um deles, impetuoso tentava carregar mais que podia no bico.
  Estar disponível para observar o que acontece ao alcance de nossas percepções proporciona prazer, pelo menos em quando se constata que movimento é motivado pelo desejo, nesse caso instinto de criação, renovação, procriação – pró-criação. Fazer um ninho implica essas perspectivas; o desejo de deixar herdeiros, de perpetuar. Filhos necessitam um lugar seguro para sobreviverem os primeiros tempos de vida, cuidados e estímulos até que possam, nesse caso, literalmente voar sozinhos em busca do que necessitam para viver o máximo possível, (dedução minha, risos).
  As coisas belas, alegres podem levar as pessoas a lembrar as feias, tristes, contra a construção de um futuro, portanto da falta de cuidados. É o que prenuncia a destruição, No caso do ser humano, que é movido pelo desejo, pela afetividade, podemos entender isso como a falta do sentimento de amor, primeiro por si próprio, reconhecimento de que merece ser querido pelo bem e agradável que pode proporcionar. É essa a gênese do reconhecimento e amores a outros.
  Infelizmente constatamos que esse aspecto destruidor do ser humano está cada vez mais acentuado, mais liberado, motivado. Quais seriam os mecanismos biopsicossociais que produzem essa realidade. É certo que constamos comportamentos destrutivos desde a história de Caim e Abel, também que o construtivo, assim como destrutivo é veiculado pela cultura, pelas e leis. Quem as faz? Onde estão escritas?
  O que pode sustentar as horas, os momentos, os dias de paz, conforto, confiança, alegria e encantamento são os mecanismos que o ser humano cria, inventa para apoiarem-se quando estão diante de fatos e dados que causam sofrimento. Lembramos da letra musical da Banda Dire Straits composição Brothers In Arms de Mark Knopfler, Jornais da Banda Gaúcha Nenhum de Nós. Até aqui entre 10 e 12 de agosto/09
  O que chama atenção na arte, especialmente nas canções e no conjunto de sons que as acompanham, (afinal o som é o primeiro anúncio de um vivente que deseja manifestar sua existência pública), é o aspecto tratar do tema, falar dessa causa de dor de uma meneira composta (fala-se de coisas que causam sofrimento, mal-estar para qualquer ser sensível a vida, através da arte de transformar em letra musical. Nesse caso o arranjo musical, os instrumentos formam um conjunto.
  Constatamos então que entre o bem e o mal há uma brecha para que possamos passar. Ouvindo ou assitindo alguém cantar acompanhado de sons instrumentais podemos chorar de emoção por dois motivos simultaneamente, mas a música, pela menos para mim é uma prova do que assim como aqueles que provocam raiva pelo mal que promovem, há também aqueles que se propõe a aliviar a dor para que possamos seguir em frente. Juntemo-nos a esses.
  Escrevendo isso, lembrei-me de uma outra letra musical. Essa apesar de falar do esquecimento do adulto de que quando era infante também percebe a realidade assim como ela se apresenta, assegura-se na ilusão, também necessária para crer e fazer a vida valer; trata-se de Bola de meia, Bola gude, composição de Milton Nascimento e Fernando Brant, belamente interpretada pela banda 14 BIS.
  Dessa transcrevo uns recortes que ilustram o que me proponho a expressar. Vejam:
Bola de Meia, Bola de Gude
Há um Menino!
Há um Moleque!
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem prá me dar a mão...
Há um passado
No meu presente
O sol bem quente
Lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa
Me assombra
O menino me dá a mão...
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade
Alegria e amor...
Pois não posso
Não devo e não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso
Aceitar sossegado
Qualquer sacanagem
Ser coisa normal...
Bola de Meia! Bola de Gude
O solitário não é solidão
Toda vez que a tristeza
Me alcança
O menino me dá a mão...
  E assim entre os fatos e dados reais, sejam objetivos ou subjetivos, perceptíveis por manifestarem-se fisicamente ou ainda apenas como potencial (a pulsão destruidora), e mais, que é inegável que o sistema social vem promovendoo desenvolvimento de personalidades para as quais a vida é banal, é impresincível que possamos também encontrar meios de neutralizar o mal que isso nos faz e produzir, criar, inventar meios que aliviam e instrumentalizam nossa alma, nossa psiquê para que a vida não seja insuportável, ja que nossa condição dentro de um sistema não viabiliza que posssamos impedir, amenizar o desenvolvimento dessas personalidades que são capazes de destruir, matar filhos, pais, avós, qualquer um que na concepção desses impede seu desejo incontrolável de sentirem-se donos absolutos do que desejam.


Concluído em 30 de agosto de 2009



Salete Cardozo Cochinsky

18 comentários:

Lau Milesi disse...

Olá Sally!!! Tudo bem??

É muito bom entrarmos numa "caverna" de vez em quando. Mesmo que seja àquela que "criamos" na nossa imaginação.rs
Fragmentos que me tocaram. Lindos!!
Parabéns pela tela!!!
Está aceitando encomendas???rs

Um beijo

Unknown disse...

Minha grande amiga e vizinha um abraço. Gostei demais do que li econcordo com a Lau as vezes temos que entrar nessa caverna. Linda a letra da música. E bela narrativa sobre a construção. E nós seres humanos se mais simples fossemos seriamos também tão puros quanto nossos irmãos alados.

Anônimo disse...

SAlete

Fez uma construção belíssima que sai das cavernas pintadas em acrílico e se mistura em versos de bola de gude e bola de meia jogando com a objeitvidade e a subjetividade humana, parabéns, puro encantamento.

beijos

Zilda Santiago disse...

Parabéns pela tela e pelo Fragmentos...Valeu.Beijo no coração.

EDUARDO POISL disse...

Pensamos demasiadamente
Sentimos muito pouco
Necessitamos mais de humildade
Que de máquinas.
Mais de bondade e ternura
Que de inteligência.
Sem isso,
A vida se tornará violenta e
Tudo se perderá.
(Charles Chaplin)

Hoje passando para desejar um final de semana com muito amor e carinho.
Abraços do amigo Eduardo Poisl.

Unknown disse...

Gostei do texto, das imagens, das relações de semelhanças entre nós e os pássaros. Eles , via de regra, parecem ser mais inteligentes que nós. Fazem o que é necessário ser feito, sem amarras, sem dificuldades aparentes. Agarram mais do que é possível no bico, mas seguem adiante, parece que sabem o seu limite. Nós, por vários motivos, desconhecemos o nosso. Somente com a queda, percebemos que ultrapassamos o limite. Parabéns pelo texto, e pela arrematação dele com a música. Beijos.

Tere Tavares disse...

Finitas são as coisas que não revelam sentimento. E-ternas as outras. Acho muito provável, que possamos ter sido pássaros um dia!!
Porque o pensamento não conhece limites, e sempre arranja uma forma de expressão. Na tua pintura, nas tuas palavras, amiga Salete, há o que aninhar. Beijos

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Há um passadoNo meu presenteO sol bem quenteLá no meu quintalToda vez que a bruxa Me assombraO menino me dá a mão...

Salete, que versos lindo, adorei...

Boa noite!
Vim desejar um bom fim de semana,
e,lhe convidar para ler meus versos
saudando a
PRIMAVERA!!!
Efigênia Coutinho

Dalton França disse...

Olá Salete. Aqui você suscita uma profunda reflexão: penso que a destruição esteja associada diretamente à inabilidade humana para construir.
Por outro lado, você (re)compensa essa imperfeição oferecendo fragmentos do magnífico poema do Fernando musicado pelo Bituca, e expondo fragmentos de sua surpreendente obra pictórica.
Parabéns! Um grande beijo!

Raquel disse...

Hola Saletita,

Há tempos ñ passo por aqui... mas como sempre todo vez que venho me supreendo com seu talento. Adorei a tela!E o texto super interessante...
Existe um livro "una cueva en la nieve" que é a história de uma mulher occidental que tras passar 12 anos de sua vida retirada numa caverna a 4.000m de altitude no Himalaya, se converteu numa lenda do budismo.

Besitossss

Anônimo disse...

Oi Salete,
Encontrei seu site por acaso e acho que voce sua contribuicao seria muito util ao nosso site. Somos uma equipe de teraputas com um site chamado Terapia Cotidiana. Entra em contato comigo, por favor. Abracos,
Sani

Salete Cardozo Cochinsky disse...

Obrigada leitores e amigos pelas suas presenças.
Lau, vou pintando... Nen sempre sei onde vão parar, mas já existem várias por esse Brasil afora. Em geral pnto algo que gosto, que me cham a atenção.
Terapia.cotidiana.com, bem vinda. Verei se consigo algum artigo ou mesmo uma poesia para deixar a disposição do Blog que referes.
Meu carinho a todos

ONG ALERTA disse...

A vida não é banal é simplesmente viver,fazer, criar, so.nhar e aprender que cada dia é conquistar algo novo então vamos realizar...paz

Luísa Nogueira disse...

Ficarmos em uma caverna ou ao ar livre, como pássaros? Sermos adultos ou crianças? Ou sermos adultos e simples como uma criança? Sermos contaminados pela maldade que nos cerca ou imunizados a ela? Suas indagações, Salete, intínsicas em seu texto, nos fazem refletir...
Luísa

Luísa Nogueira disse...

Desculpe... lê-se "intrínsecas"
Luísa

João Esteves disse...

Salete, sua pintura de caverna (no tema, não no estilo) levou-a a interessantes reflexões sobre ninhos e coisas tais, que por sua vez sempre levam a outras, com direito a letras de canções bem inseridas no contexto.
Beleza.
Agrada-me ver o Aletheia assim, em plena atividade, com mais este fragmento.
Até breve

Lau Milesi disse...

Oi Sally!!! Cadê você??? Estou com saudades.Dê notícias.

Um beijinho

Salete Cardozo Cochinsky disse...

Obrigada queridos pelas visitas e comentários.
Lau, estou de volta depois dessa "folga" de escrita. Nesse tempo meu trabalho exigiu mais e para meu relax, usei tinta e tela.
Beijos